Salmo Mágico
Porque este mundo tem asas e o que virá nenhum homem pode saber
Ó Fantasma que a minha mente persegue ano após ano, desce do céu para esta
carne tremendo
apanha o meu olhar fugaz no vasto Raio que não conhece limites - Inseparável - Mestre -
Gigante fora do tempo com todas as suas folhas caindo - Génio do Universo - Mago em
Nada onde aparecem nuvens vermelhas -
Rei indizível das estradas que se foram - Cavalos ininteligíveis saindo do
cemitério - Pôr do sol que se espalhou sobre
a Cordilheira e o insecto -
Traça Nodosa -
Lamentador - Riso sem boca, Coração que nunca teve carne para morrer - Promessa que não foi
feita - Consolador, cujo sangue queima um milhão de animais feridos -
Ó Misericórdia, Destruidor do Mundo, Ó Misericórdia, Criador das Ilusões com Seios, Ó Misericórdia,
cacofónica boca quente de pomba, vem,
invade o meu corpo com o sexo de Deus, engasga as minhas narinas com o infinito da corrupção da carícia,
transfigura-me em vermes viscosos de pura sensorial transcendência que ainda estou vivo,
grita como um sapo em minha voz com maior fealdade do que a realidade, um tomate psíquico falando em Teu milhão de bocas,
Uma miríade de línguas em minha Alma, Monstro ou Anjo, Amante que me vem foder para sempre - branco
vestido de uma lula sem olhos -
Idiota do Universo em que desapareço -
Mão Elástica que falou com um Guindaste -
Música que passa no fonógrafo vinda de anos de um outro Milénio - Ouvido dos
edifícios de NY -
Aquilo em que acredito - vi - busco infinitamente na folha de olho de cão - falha sempre, falta -
o que me faz pensar -
Desejo que me criou, Desejo que escondo em meu corpo, Desejo de que todos os homens conheçam a Morte, Desejo
superando o mundo possível da Babilónia
que faz a minha carne tremer de orgasmo do Teu Nome que não sei, nunca, nunca
pronunciar -
Fala com a Humanidade para dizer que o grande sino repete um tom dourado nas varandas de ferro de cada
universo entre milhões,
Sou o Teu profeta que voltei para casa neste mundo para gritar um Nome insuportável através dos meus 5
sentidos o sexto ocultado
que conhece a Tua Mão sobre o teu falo invisível, coberto com as lâmpadas eléctricas da morte -
Paz, Solucionador onde arruino a ilusão, Leve Boca da Vagina que entra por cima no meu cérebro, Arca de Pombas com um galho de Morte.
Deixa-me louco, Deus, estou pronto para a desintegração da minha mente, desonra-me aos olhos
da terra,
Ataca o meu coração peludo com terror, come o meu pau, coaxar Invisível de um sapo mortal a soltar em mim
uma matilha de pesados cães salivando ao de leve,
devora o meu cérebro Um fluxo de consciência sem fim, tenho medo medo de que a Tua promessa
faça gritar a minha oração de medo -
Desce Ó Criador da Luz & Devorador da Humanidade, perturba o mundo em sua loucura de bombas
e assassínio,
Vulcões de carne sobre Londres, em Paris uma chuva de olhos - caminhões carregados de corações de anjos
manchando as paredes do Kremlin - a taça da caveira de luz para Nova York -
miríades de pés com jóias nos terraços de Pequim - véus de gás eléctrico descendo sobre a
Índia - cidades de bactérias invadindo o cérebro - a Alma fugindo para as ondas de borracha das bocas do paraíso -
Este é o Grande Apelo, este é o Toque de Alarme da Guerra Eterna, este é o grito da Mente morta
nas Nebulosas,
este é o Sino de Ouro da Igreja que nunca existiu, este é o Estrondo no coração
do raio de sol, esta é a trombeta do Verme na Morte,
Apelo do castrado sem mãos para agarrar a semente dourada do Futuro através do terremoto &
vulcão do mundo -
Coloca os meus pés sob os Andes, salpica o meu cérebro na Esfinge, decora a minha barba e
cabelo sobre o Empire State Building,
cobre a minha barriga com as mãos de musgo, enche os meus ouvidos com o teu raio, cega-me
com
o arco-íris profético
Que finalmente sinto o gosto da merda do Ser, que tocou os Teus genitais na palmeira,
que o vasto Raio do Futuro entre na minha boca para soar a Tua Criação Sempre Por Nascer, Ó
Beleza Invisível para o meu Século!
que a minha oração ultrapasse o meu entendimento, coloque a minha vaidade a Teus pés, não haja
mais medo do Julgamento sobre o Allen deste mundo
nascido em Newark indo para a Eternidade em Nova York chorando novamente no Peru por uma Língua humana
para salmar o Indizível,
que eu supere o desejo de transcendência e entre nas águas calmas do universo
que cavalgue essa onda, que para sempre deixe de me afogar no fluxo da minha imaginação
e não morra por minha própria magia insana,
que este crime seja punido em misericordiosas prisões de
Morte,
os homens entendem a minha fala fora do seu próprio coração Turco, os profetas ajudam-me com
a Proclamação,
o Serafim aclama o Teu Nome, Tu mesmo de imediato numa imensa Boca de Universo faz com que a carne responda.
Kaddish and Related Poems (1959-1960)
Collected Poems 1947-1997
© 2006 Allen Ginsberg Trust
(HarperCollins Publishers e-books)
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa