Rodando o Mundo Curvo

   Quando os cantos de um quarto de verão suavizam e as formas curvilíneas envolvem um olho como um mastro a que o marinheiro foi amarrado enquanto as sirenes cantavam a tristeza do mar, vê como ele se interroga por que razão a mulher a que acabou de dar um beijo de despedida permanece dentro dele.


     Da janela oval de uma cabana num bosque de bétulas ela acena, mas quando ele se retira para uma cadeira no quintal, ela está diante dele, dizendo vê como cada coisa apercebida se curva e roda. Bobinas de colinas zumbem e além dos ramos sombreados do pinheiro, algo cai, um apelo da floresta e ele ouve como cada som se dobra dentro do lóbulo da sua orelha. Até mesmo ao observar os alces através da névoa baixa, apelando ao acasalamento, vê que se tornam invisíveis. O coito virou o mundo curvo do avesso.

     No convés de carvalho, ele abandonou: o arfar de sabujo, o tamborilar da pata do gato. Dançando à beira do prado, o corpo imperceptível do som envolve cada intromissão – o tiro da arma, o barulho de asas - cosendo o seu tímpano com uma lesão aberta, como a mulher diante de si dizendo vamos de novo dar uma volta. Para a floresta: o brilho da folha de louro, a seda de teia de aranha, a fonte e a montanha fluindo na direcção inversa. Como o conhecimento de estar aqui há milhares de anos e encontrar o som de cair do fim do mundo, um grito abafado pela calmante luz do sol numa clareira: cada buraco no espaço é preenchido com espaço!

Como pode admitir o terror? O mundo inteiro é feminino.




Kirpal Gordon


Selected Poems of Post-Beat Poets
Edited by © 2008 Vernon Frazer
Shanghai Century Publications, China
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 

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